Alienado, quem?

Você acredita que por dia desparecem quantas pessoas no Brasil? Quantas mulheres são estupradas por dia no país? Quantos homicídios são cometidos por policiais diariamente? E o COVID-19 qual porcentagem da população brasileira foi contaminada?

Os dados oficiais são transmitidos na televisão e repousam bem na palma da sua mão quando faz uso do seu celular, mas por algum motivo algumas pessoas acreditam que os números para responder as perguntas anteriores são bem mais altos do que de fato são e a grande questão é: por que acreditam nisso?

Para descobrir é necessário entender alguns pontos que podem ter levado as pessoas a acreditarem nisso.

O lugar que armazenamos o nosso ser

A mente é a parte imaterial e funcional do cérebro, mas além de fazer o ser humano executar tudo que executa, é o lugar no qual a personalidade e até a inteligência são formadas. Na mente as escolhas são feitas, os pensamentos criados e as memórias armazenadas.

A psicóloga Bruna Gonçalves, formada em psicologia pela Universidade Mogi das Cruzes explica que a mente não nasce do nada e que ela já está sendo formada desde a gestação, além de receber inúmeros estímulos fisiológicos, comportamentais e do ambiente durante toda a vida. Deixando claro que a mente está sempre em processo de transformação.

No interior da mente é possível constatar dois níveis: o consciente e o inconsciente.  No consciente são acessadas as memórias e os pensamentos facilmente. Já o inconsciente não é acessado de forma fácil nem pelo próprio dono da mente.  

O psicólogo Daniel MIzael da Silva relata que muitas vezes as pessoas fazem algo e não sabem explicar a razão. Isso acontece porque está gravado na camada mais profunda da mente. Esse é o funcionamento do inconsciente. As experiências que são insuportáveis para o consciente, são armazenadas no inconsciente.

 

Aprendemos ou nascemos sabendo

Você sabia que os gatos filhotes aprendem a caçar com as suas mães? Interessante, porque é comum ligar o fato de serem predadores com o instinto natural deles, mas se um gato não tiver sua mãe para mostrar como faz, ele não saberá fazer. Se até eles só aprendem o que é apresentado, como são os humanos então?

A psicóloga Bruna afirma que o ambiente que as pessoas estão inseridas importa para a mente e assim para o comportamento. Ela conta que em seu consultório recebeu um menino que afirmava não gostar de frutas, durante a sessão ela tentou entender os motivos, porém quando questionou a mãe dele perguntando se ela comia frutas, a mãe respondeu que não.  Ela estava então exigindo do filho algo que nem ela fazia. 

 

O poder da mídia

 “Se nós somos o resultado da soma total de nossas relações, será que as relações que estabelecemos com a mídia não teriam algo a dizer sobre o que somos?”, questiona Pedrinho Arcides Guareschi, psicólogo e professor, além der autor e co-autor de diversas pesquisas e publicações principalmente no campo de Psicologia social.

Em todas as eleições é possível observar a ligação entre a mídia e os candidatos, seja com o horário eleitoral, os famosos debates e toda a repercussão que assunto ganha nos noticiários e redes sociais. “As eleições são influenciadas pela mídia, os eleitores observam os partidos, os candidatos e só sabem o que eles estão fazendo a partir dos meios de comunicação”, diz o cientista político Décio Vieira da Rocha.

Para a socióloga Paula Pimentel, formada em Ciências Sociais e mestre em memória social os impactos da mídia nas eleições são sérios e relembra que nas eleições de 2018, veículos como Jornal Nacional, influenciaram com notícias tendenciosas para um lado enquanto outros canais como, por exemplo, a Record já apoiava o Bolsonaro.

Se a mídia não fosse poderosa e influenciadora será que teria um papel de destaque nas eleições?

Os assuntos que conversamos

Para essa reportagem, foi feito um levantamento online com perguntas para descobrir alguns dados. O levantamento contou com a participação de 134 pessoas.

Dessas 134 pessoas, 89,6 % afirmaram conversar com outras pessoas sobre as coisas que leu, assistiu e ouviu nas redes sociais, rádio e televisão.

A teoria do agendamento aparece para explicar esse fenômeno, as pessoas tendem a conversas e dar mais importância sobre assuntos que estão mais expostos na mídia, ou seja, quando a mídia filtra o que será publicado, falado e o que virará notícia está agendado sobre o que as pessoas vão conversar.

As ações que tomamos

Merchandising social é quando uma determinada propaganda ou ação é usada em novelas ou outros programas de televisão principalmente com o objetivo de educar a população em prol de uma causa.

Um exemplo que pode ser citado é a novela “Cúmplices de Um Resgate” exibida pelo SBT nos anos de 2015 e 2016. Uma personagem sofreu um acidente e precisava de doação de sangue, aproveitaram esse momento para fazer uma campanha para o “Clube Sangue Bom” e lançaram a campanha #doepelaPriscila.  Durante a semana que a personagem ficou no hospital na novela, era divulgado um vídeo ao final de cada capítulo, com um apelo de cada personagem da trama e a continuidade do vídeo era postado apenas na internet com um link que mostrava a localidade de hemocentros. Além disso, um símbolo de gota de sangue foi colocado durante toda a semana para mostrar o nível de engajamento da campanha e de doação.

O sensacionalismo na mente humana

Entre todos os entrevistados para essa reportagem não existiu um que defendeu o sensacionalismo, por outro lado não conseguimos contato com nenhum apresentador desse tipo de noticiário.

O psicólogo Daniel relata que o próprio pai dele assiste a um programa de jornalismo sensacionalista e nesse programa passa muitas notícias sobre o “golpe do pix”, para o pai de Daniel usar essa ferramenta é muito perigoso, porque ele acredita que todo mundo é roubado pelo pix. Importante lembrar que apesar de ter seu risco, não acontece com todo mundo.

A jornalista Berenice Leite, apresentadora do programa 62 minutos e com mais de 39 mil seguidores no Instagram afirma que o sensacionalismo não é aprovado pelos profissionais da área, mas que muitos jornais que criticam o sensacionalismo, na verdade são os verdadeiros sensacionalistas.

No levantamento mais de 35% declararam assistir programas sensacionalistas pelo menos uma vez por semana.

A pandemia do caos

A psicóloga Bruna Gonçalves conta que antes da pandemia de COVID-19 chegar ao Brasil, uma senhora aposentada, precisou começar a fazer terapia, afinal antes de se pensar em quarentena no Brasil, ela já tinha muito medo de sair de casa, porque consumia notícias de modo excessivo e já se preocupava com a contaminação. A única vez que foi atendida presencialmente, usou luvas e máscara.  Quando a quarentena começou, ela piorou, brigou até com seu marido quando ele foi até a sacada e depois se sentou no sofá dentro de casa, ela então o mandou lavar as mãos já que na visão dela, ele tinha saído de casa e poderia estar contaminado. Quando o pico da pandemia passou, o convênio decidiu que era hora de voltar aos atendimentos presenciais, então ela decidiu não continuar.

A jornalista Berenice afirma que houve um sensacionalismo muito grande em torno da pandemia, para ela poderiam ter falado sobre os cuidados que as pessoas deveriam tomar, sobre histórias de superação para inspirar, mas decidiram mostrar cemitérios e covas abertas para implantar o medo na população. Além de veículos tradicionais como Folha do Estado, Globo, Uol terem deixado de usar os dados oficiais do Ministério da Saúde, porque segundo eles os dados estavam sendo divulgados apenas no fim do dia então decidiram criar um consórcio entre eles e fazer essa apuração.




 

Em nosso levantamento, mais de 46% acreditam que mais de 50% da população brasileira testou positivo para COVID-19. E mais de 36% acreditam que mais de 90% da população testou positivo. Sendo que os dados oficiais, mostram que de uma população com cerca de 214 milhões pessoas, foram positivos 30 milhões de casos, sendo assim cerca de 14% da população testou positivo.

O fato que não existe

Em 30 a.C, Marco Antonio e Otaviano disputavam o poder de Roma, porém o primeiro se apaixonou por Cleópatra, a rainha do Egito e se mudou para lá. Foi quando Otaviano declarou ter um documento oficial do próprio Marco Antonio com algumas revindicações como deixar uma parte do território romano para seus filhos com Cleópatra, declarar um de seus filhos o legitimo sucessor e que seria enterrado no mausoléu dos reis em Alexandria.

Levando as pessoas a acreditarem que Marco Antonio tinha se corrompido e que seria mais um a querer levar Roma da republica para a monarquia.

Apesar disso, para o cientista político Décio, as Fake News não conseguem mudar a opinião política das pessoas e são na verdade usadas apenas para confirmar o que o indivíduo já acredita.

Em outra perspectiva a história de Marco Antonio e Otaviano pode concordar com o que o cientista político afirmou já que alguns historiadores dizem que na verdade os romanos eram anti-Cleópatra e anti-oriental sendo assim o documento sendo verdadeiro ou não, não importava, pois foi apenas um meio de confirmação para a população que já não queria Marco Antonio no poder por ter se apaixonado por Cleópatra.

Otaviano se tornou então o primeiro imperador de Roma, o Imperador Augusto César. Levando então Roma de república para monarquia, o mesmo que ele afirmou que Marco Antonio iria fazer.

Em nosso levantamento mais de 50% afirmaram já ter compartilhado notícias falsas presencialmente ou nas redes sociais, mesmo sem saber que eram falsas.

Por fim, a jornalista Berenice explica que não existe um dono da verdade, pois a verdade de um, não é a verdade do outro. Além disso, até mesmo as agências checadoras de Fake News são perigosas para a liberdade de expressão, pois elas não podem ser as que afirmam o que é verdade ou não, sendo possível uma grande censura por meio dessas agências.

As respostas

Em nosso levantamento, foram feitas as mesmas perguntas do início dessa reportagem.


Mais de 48% acreditam que os policiais realizam cerca de 100 mortes por dia no Brasil, porém os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que na realidade são apenas 17 por dia. 


Mais de 38% acreditam que por dia desaparecem cerca de 1000 pessoas no Brasil, apesar da porcentagem ter ficado a mesma para quem acredita que 200 pessoas desaparecem diariamente, é importante citar que 22% acreditam que 10 mil pessoas desaparecem por dia, mas de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021, cerca de 172 pessoas desaparecem por dia.


Mais de 29% acreditam que mais de 1000 mulheres são estupradas por dia no Brasil, mas os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020 afirmam que não chegam nem a 200 mulheres por dia e mesmo em 2021, ano em que os números aumentaram não passa de 275 mulheres por dia.

A ideia não é descartar esses casos nem dizer que não importam, mas sim mostrar que as pessoas têm em sua mente números de casos maiores do que de fato existem.

A jornalista Berenice incentiva que é importante sempre questionar o porquê as notícias estão sendo dadas e até a forma como elas são apresentadas. 



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